Após aumento de calado, terminais cobram melhorias

O aumento do limite máximo do calado dos navios, anunciado há pouco mais de um mês pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o Porto de Santos, veio junto com a promessa de crescimento nas movimentações de cargas no complexo marítimo. Apesar de otimistas com a medida e esperando o aumento do volume de mercadorias, terminais de contêineres que atuam no cais santista ainda aguardam a resolução de alguns gargalos para que essa expectativa de crescimento se concretize.

 

No primeiro semestre, de acordo com o balanço do mês passado da Codesp, as operações com contêineres atingiram 2 milhões de TEU (medida padrão, equivalente a um contêiner de 20 pés), o que representou um aumento de 11,8% em relação ao mesmo período do ano passado. 

 

A movimentação de cargas conteinerizadas vem crescendo consecutivamente há 11 meses e a estatal atribui o desempenho ao “resultado das condições de calado que propiciam a navegação de navios de maior porte no complexo santista”.

 

Em seu estudo de projeção para o ano, divulgado em janeiro, a Docas esperava que a carga em contêineres fosse destaque com um aumento de 4,4% em 2018, chegando a 4 milhões de TEU.

 

Em julho, quando a Codesp anunciou o aumento de 30 centímetros para o calado operacional máximo do canal de navegação do Porto (profundidade máxima que um navio pode atingir no canal), a estimativa era de um aumento de 10% nas operações do complexo, que passaria a operar mais US$ 435 milhões (equivalente a R$ 1,6 bilhão) em mercadorias ao ano. Cada centímetro a mais de calado permite o transporte de 100 toneladas de granel ou oito contêineres.

 

Mesmo com a medida, a Codesp mantém as projeções para o restante do ano. “Entende-se que o aprofundamento do canal por si só não garante uma maior movimentação de cargas neste ano. É um fator de ampliação da capacidade máxima de movimentação, mas a demanda mais imediata estaria muito mais relacionada à evolução do nível de atividade dos operadores portuários neste segundo semestre”, afirma a Autoridade Portuária por meio de nota.

 

Uma versão preliminar do novo Plano Mestre da Codesp, que reúne projeções até 2060 das operações, apontou, entre outras coisas, que as cargas conteinerizadas devem ter o maior aumento de movimento no período, 2,1% ao ano, ampliando sua participação dos atuais 35% para 40% nas próximas décadas.

 

Operadores

 

A Libra Terminais informa, em nota, que registrou aumento de 79% na movimentação de contêineres no primeiro semestre de 2018, em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com o terminal, as projeções para 2018 indicam um volume de 340 mil contêineres, o que representa um aumento de mais de 40% sobre 2017.

 

Para Antonio Carlos Sepúlveda, presidente da operadora Santos Brasil (arrendatária do Terminal de Contêineres, o Tecon), o aumento de calado é bem-vindo, mas não terá impacto na quantidade de contêineres a ser movimentada no ano. O calado de 14,50 metros na preamar ainda não é o ideal. 

 

“Ele ainda obriga os navios a aguardar a maré alta para zarpar, impactando negativamente na capacidade do porto. Os navios aguardam até 6 horas após a conclusão da operação pois precisam da maré alta para manobrar”, explica.

 

Sepúlveda acredita que o que terá forte impacto nos volumes operados no cais santista será a possibilidade de chegada dos navios de 366 metros em qualquer maré. “Este tipo de navio tem custo unitário de transporte muito baixo e dará enorme competitividade ao comércio exterior brasileiro”, afirma.

 

A DP World Santos (antiga Embraport) tem a expectativa de movimentar até 680 mil TEU neste ano. Mas para o crescimento efetivo, o diretor comercial da empresa, Fábio Siccherino, acredita que, além de se levar em conta a taxa de câmbio do dólar para a importação, algumas questões do Porto têm que ser resolvidas. Ele avalia que principal problema do complexo santista ainda é o calado. 

 

“Isso (o aumento de 30 centímetros) dá um fôlego, mas ainda é preciso solucionar a questão de forma definitiva. Precisamos ter condições de trazer navios maiores”, diz.

 

Outro ponto problemático de acesso ao Porto apontado por Siccherino é a dependência do modelo rodoviário. “É preciso melhorar o sistema ferroviário, pois Santos tem que manter o protagonismo na questão do comércio exterior”, analisa.

 

Sepúlveda ainda aponta o excesso de regulação e intervenção no setor como um fator que vem reduzindo os investimentos no setor portuário, o que, a médio prazo, trará a falta de capacidade de operação. “O excesso de regulação é caro para a sociedade e penaliza o usuário pelo alongamento dos ciclos de investimento. A iniciativa privada está pronta para investir nos portos brasileiros, mas é preciso que o setor fique mais atrativo”, considera