Empresa gasta 13% da receita com logística, mostra estudo

 

As empresas que atuam no Brasil destinam em média 13,1% de sua receita bruta com despesas envolvendo logística. Os setores mais prejudicados são as indústrias de bens de capital (22,69% do faturamento), construção (20,88%) e mineração (14,63%). Os números são de um estudo feito pela Fundação Dom Cabral com 126 empresas que faturam 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

 

O transporte de longa distância é o que mais pesa nas operações, representando 38% do total, em média. Em seguida, estão armazenagem (18%), distribuição urbana (16%) e custos portuários e aeroportuários (13%).


Na pesquisa de opinião, foi indicado pelas empresas como principais fatores de elevação nas despesas as estradas em más condições, a burocracia governamental e a restrição de carga e descarga nos grandes centros urbanos.


Como solução, 70,7% das empresas sugerem a "melhor gestão das ferrovias com integração multimodal". "Essa integração poderia reduzir o custo relacionado com o transporte de longa distância, que é o que mais pesa na composição do custo logístico do país", completa o coordenador da pesquisa, Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral.


Resende ressalta que o transporte de longa distância é feito na maior parte por rodovias, o que demanda, no curto prazo, investimento nas estradas. "Ações de privatizações de rodovias são vistas com bons olhos. Os empresários preferem pagar pedágio a transitar por estrada ruim." Para o especialista, as tarifas nas estradas têm peso pequeno no custo logístico.


No longo prazo, no entanto, ele destaca a necessidade de investir em ferrovias e mudar a forma de gestão do setor, permitindo a passagem de mais de um operador na mesma ferrovia – movimento já iniciado pelo governo. "Em média, a cada dólar que se gasta para uma rodovia nova, precisa-se gastar quatro dólares em uma ferrovia. Mas o frete na ferrovia é 40% mais barato do que na rodovia", diz, lembrando que o investimento no transporte sob trilhos se paga em dez anos.


O levantamento apontou ainda mudança na cobrança de ICMS e a redução da burocracia portuária como importantes ações para a redução dos custos.


Enquanto essas mudanças não ocorrem, as empresas têm elaborado estratégias para se proteger dos altos preços logísticos – que incluem despesas dentro das cidades. Cerca de 65% das empresas consultadas diz que está adotando como estratégia a terceirização de frota e serviços logísticos para que isso seja feito por companhias especializadas. "A terceirização é perigosa, pois há uma busca de redução de custos e a qualidade do serviço pode cair", pondera Resende.


Para Luiz Afonso Senna, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em transportes, o país tem "carência endêmica" de investimento em infraestrutura. "Há insuficiência em todas as áreas, já que o país perdeu muito tempo para voltar a investir", considera. Para ele, os pacotes de concessão do Planalto já demonstram a preocupação do governo com o tema. "Há demonstração de que investimentos serão compartilhados com iniciativa privada. Isso é um reconhecimento de que o poder público sozinho não será capaz de avançar", diz.