Logística é desafio para avanço do algodão no Brasil

Há 20 anos, o Brasil era o segundo maior importador mundial de algodão. Na safra 2018/19, assumiu a posição de segundo maior exportador do produto.

 

O país obtém avanço contínuo na produtividade e na produção dessa fibra nos anos recentes e se torna um dos principais mercados no mundo.

 

Essa evolução, porém, impõe sérios desafios. Entre eles, a logística de escoamento da matéria-prima e a manutenção da qualidade da fibra conforme as exigências do mercado externo.

Para Victor Ikeda, analista sênior de grãos e oleaginosas do Rabobank, banco especializado em agronegócio, o algodão vem se adaptando aos diferentes cenários do país ao longo das últimas décadas.

O diferencial do produto brasileiro se dá na competitividade e nos custos de produção. Até a metade da década de 1990, a produtividade brasileira se mantinha inferior à da média mundial. Na safra atual, deverá atingir o dobro da média obtida no mundo.

Nesse cenário, as perspectivas são que as exportações brasileiras atinjam 2,9 milhões de toneladas em 2028/29, crescimento de 115% em relação ao volume atual, segundo Ikeda.

Esse avanço necessita, porém, de um acompanhamento da logística no escoamento do produto, atualmente concentrado no porto de Santos.

O Brasil terá de desenvolver novas rotas pelo chamado Arco Norte, a exemplo do que ocorre com os grãos, uma vez que 90% da produção atual de algodão vem de Mato Grosso e do oeste da Bahia.

O potencial brasileiro de produção avança porque o país adotou um novo modelo empresarial de cotonicultura no cerrado brasileiro. Foram dados destaques aos ganhos de rendimento e à melhora da qualidade do pluma.

O país precisa ficar atento, no entanto, à qualidade da fibra brasileira no mercado internacional, afirma Ikeda.

“É preciso uma atenção ao processo pós-colheita, principalmente à capacidade de beneficiamento das algodoeiras do país”, diz ele.

A produção de algodão avançou devido às boas condições climáticas na região Centro-Oeste. As margens de ganho, em relação às do milho, também foram favoráveis a essa expansão.

Na safra 2018/19, as projeções apontam para uma margem líquida de R$ 400 por hectare para o milho safrinha e de R$ 3.500 para o algodão de segunda safra.

O rendimento atraiu novos investidores. Ikeda afirma, entretanto, que é uma cultura que exige cuidados e bom planejamento.

Os produtores devem avaliar não só os aspectos técnicos e de conhecimento da cultura mas também os financeiros. O custo de produção do algodão é de R$ 6.600 por hectare, sem o beneficiamento. O do milho safrinha fica em R$ 2.100.

Além dessa necessidade de volume maior de capital de giro, o produtor terá um tempo mais longo entre o retorno das receitas da comer- cialização e os gastos com a produção. No caso do milho e da soja, esse período é de 12 meses. No do algodão, pode chegar a 24.

Os investimentos na cotonicultura são volumosos. Além de máquinas específicas para o setor —uma colhedora de algodão pode custar R$ 4 milhões—, o produtor entrante no setor, dependendo do tamanho da área a ser cultivada, também deverá avaliar investimentos na montagem de uma algodoeira, uma vez que o produto é negociado em pluma.

O Brasil eleva a produção de algodão, mas um dos pontos negativos é que boa parte desse produto irá para a Ásia. A industrialização brasileira da fibra ficará praticamente estável nos próximos dez anos.