Analisar a capacidade operacional dos rebocadores que prestam serviços no Porto de Santos foi o objetivo de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que está sendo elaborado por alunos do curso de Gestão Portuária da Faculdade de Tecnologia (Fatec) Baixada Santista – Rubens Lara, em Santos. Na primeira etapa da pesquisa, os estudantes avaliaram os tempos de manobras de atracação no cais santista.
A partir dessa análise inicial, os alunos produzirão artigos que servirão como base para o projeto final. Tábata Gonçalves, Natalia Santos Silva e Priscila Souza são as alunas responsáveis pelo trabalho. Elas são orientadas pelo professor Ricardo Reiff.
A primeira parte da pesquisa foi montar uma simulação com uma metodologia de observação e cronometragem. Durante alguns dias, a entrada de navios foi cronometrada a partir da região próxima à Fortaleza da Barra até a bacia de evolução dos terminais portuários. O objetivo foi identificar quanto tempo levava esse processo.
“Inicialmente, foram analisados os tipos de rebocadores que existem no Porto, que seriam apenas os azimutais. Eles têm a possibilidade de fazer manobras em 360 graus, o que possibilita que a atracação seja feita de maneira mais rápida do que os convencionais”, destacou Tábata.
Foram duas semanas de observação, no final de novembro passado. De acordo com Tabata, neste período, o Porto de Santos recebeu entre 40 e 50 navios por dia. No entanto, destes, apenas 30 atracaram.
O que mais chamou a atenção das estudantes nesta primeira fase da pesquisa foram os atrasos. Entre os navios que trafegaram no canal de navegação do Porto em direção aos terminais, entre nove e 15 embarcações não conseguiram atracar no horário previsto.
Segundo a estudante, o maior gargalo é percebido entre a boia 3 e a Fortaleza da Barra. Este é ponto em que os navios mais esperam pelo serviço dos rebocadores no Porto.
“Possivelmente esse problema se dá por conta dos berços que devem estar sendo desocupados ou preparados para o recebimento desses navios, ou também pelo fato do nosso canal de acesso não possibilitar a entrada e saída simultânea de navios por conta dele ser estreito e sinuoso. Existe essa espera para que possa ser aprovada a entrada desses navios”, explicou Tábata.
Problemas climáticos também podem ter afetado o planejamento de atracação dos navios. Isto porque, durante a realização das observações e das cronometragens, uma forte ressaca atingiu a Ponta da Praia.
Solução
Planejar a atracação dos navios, de acordo com a tecnologia utilizada pela embarcação e com a localização dos terminais, pode ser a saída para a solução do gargalo nas manobras de atracação no cais santista. Esta é uma sugestão do grupo de alunos da Fatec que elaborou a pesquisa.
“Os terminais que possuem movimentação maior poderiam ter planejamento e até uma prioridade no momento de atracar. Se tivesse algum outro navio na fila que precisasse atracar nesses primeiros terminais e não possuísse essa tecnologia, eles poderiam fazer uma troca”, explicou Tábata.
A aluna se refere à tecnologia Bow Thruster, um tipo de equipamento propulsor que garante maior manobrabilidade às embarcações. O termo pode ser traduzido como propulsor para manobras. O aparelho é formado por um hélice lateral embutido dentro de um túnel no casco da proa. O dispositivo é muito útil nas manobras para atracar uma embarcação lateralmente.
“Com o Bow Thruster, (um navio) consegue ir sozinho da Fortaleza (da Barra) até o terminal, sem o rebocador. No entanto, quando chega no terminal, ele precisa dos rebocadores, no mínimo três, para encostá-lo no terminal e começar a movimentação. Em caso de navios antigos, eles precisavam dos quatro rebocadores e a manobra dele demorava bem mais porque ele não possui a tecnologia. Essas embarcações comprometem canal inteiro e provocam grandes diferenças nas programações”, explicou a estudante de Gestão Portuária.
Próxima etapa abordará aproveitamento da frota
A segunda etapa do trabalho que está sendo elaborado pelas alunas da Faculdade de Tecnologia (Fatec) Baixada Santista – Rubens Lara prevê a análise do aproveitamento da frota de rebocadores do Porto de Santos. Atualmente, 15 embarcações prestam esse serviço no cais santista, segundo o levantamento inicial dos estudantes.
“Foi perceptível que a gente não usa a nossa capacidade total. A gente não tem navio para tudo isso e também ainda há entraves nesse processo, que acabaram impossibilitando a entrada dos 50 navios em 24 horas”, explicou a estudante Tábata Gonçalves, que realiza esse estudo ao lado de Natalia Santos Silva e Priscila Souza, as três do curso de Gestão Portuária. Elas são orientadas pelo professor Ricardo Reiff.
A aluna explica que, se os terminais investirem em eficiência operacional, a utilização dos rebocadores pode ser otimizada. Isto porque os gargalos não são restritos às manobras, que são processos ágeis. “A utilização de tecnologias pelos terminais e a adequação de equipamentos são necessárias para melhorar as operações”.
Para identificar qual é a taxa de aproveitamento dos rebocadores do Porto, o grupo pretende utilizar simulações. “Na minha conta, vai dar uma média de 120 navios por 24 horas, mas eu ainda estou melhorando a simulação. Ainda preciso trabalhar também com os outros entraves, que podem ser a parte burocrática, porque, até então, eu só analisei o ambiente marítimo portuário, muito embora eu saiba que as operações em terra e a eficácia dos terminais também influenciam muito”, explicou Tábata.
Dificuldades
Segundo o professor Ricardo Reiff, a dificuldade em encontrar dados operacionais do Porto é um grande entrave para as pesquisas acadêmicas. “Percebi, através da aluna, a dificuldade em colher dados reais. Ela fez uma coisa que dificilmente os alunos fazem, que é observar. O trabalho está muito próximo do real, mas o ideal é que tivesse uma fonte de informação precisa. O resultado seria mais preciso”, disse.
Para Reiff, isso é reflexo do grande número de entes que atuam no setor. “Quando você analisa o problema, quem é dono do problema esconde a informação. Cada setor tem uma visão diferente do processo”.