Os cuidados com o ecossistema, especialmente ações para reduzir o impacto ambiental das operações, já integram o cotidiano dos portos brasileiros. E a tendência é que essa atenção seja ampliada, tanto para o atendimento a exigências legais, como para a garantia da sustentabilidade das atividades dos complexos marítimos.
A análise é da gerente de Meio Ambiente da Brasil Terminal Portuário (BTP), Elisabete Ramos, que ministrou na terça-feira (6) uma palestra, aberta à comunidade, sobre o processo de remediação ambiental realizado na área hoje ocupada pela unidade – antes, o local, que fica na região da Alemoa, no cais santista, abrigava um lixão e era considerado o maior passivo ambiental do setor. O processo foi concluído há cinco anos.
A apresentação da gerente integrou a 4ª semana interna de Meio Ambiente do terminal, especializado na operação de contêineres e que mantém 13 programas voltados à proteção ambiental.
Sobre as práticas do segmento portuário com o ecossistema, Elisabete cita as próprias iniciativas desenvolvidas pela BTP. “Os cuidados não pararam na remediação, mas continuam. Esse é um dos princípios da sustentabilidade, da descontaminação e despolui-ção de áreas. Você vê a área do terminal com a criação de novas áreas verdes, com mais de mil árvores do bioma da Mata Atlântica, de manguezal. Além disso, há a reutilização de recursos, a implantação de painéis solares”, destacou.
A elaboração de planos de gerenciamento de riscos e a adoção de procedimentos especiais para a movimentação de cargas perigosas também estão entre os cuidados adotados em prol da preservação do meio ambiente. “Temos, por exemplo, dois funcionários de empresas especializadas que fazem rondas e adotam procedimentos de checklist durante os abastecimentos (dos navios)”.
Um estudo desenvolvido pelo Governo Federal aponta que as mudanças climáticas verificadas em todo o planeta vão afetar o Porto de Santos, especialmente sua infraestrutura de cais, a retroárea e seus acessos, tanto marítimos como terrestres. Com relação a essa questão, a gerente da BTP explica que o monitoramento das espécies marinhas também é um indicativo para identificar o fenômeno. “Se aumenta o nível do mar, muda a temperatura da água, que aumenta. A gente faz o monitoramento e consegue ver as variações”, explicou.
Remediação
A unidade da BTP no Porto de Santos foi erguida no terreno do antigo Lixão da Alemoa, cujo solo ficou contaminado devido à deposição de resíduos. O problema foi considerado o maior passivo ambiental do setor portuário nacional. A solução dada ao terreno foi um dos destaques do projeto da empresa.
No início dos trabalhos no local, a operadora acreditava que seria necessário retirar 670 mil toneladas de sedimentos contaminados. Mas, durante o processo de limpeza, foram transportados para o maior aterro sanitário do Brasil, em Caieiras (SP), mais de 711 mil metros cúbicos de resíduos poluídos. Foi um total de 1,14 milhão de toneladas do material, que se estendia a até 10 metros de profundidade. O trabalho demandou investimentos de R$ 257 milhões.
“Várias empresas, mesmo naquela época, perderam o interesse (na área) por conta do investimento que seria necessário. Algumas empresas estavam instaladas e cada uma queria remediar sua parte. Só com o arrendamento da área inteira, estudos e todo o processo acontecendo na área inteira, foi possível. Mesmo naquela época, que não tinha crise, o investimento que se falava para fazer a remediação já era alto”, destacou a executiva.
Até os funcionários mais antigos do terminal ficaram impressionados com o tamanho do problema no terreno ocupado pela BTP. “Eu pensava como isso vai ficar? Vai ter muito trabalho para ficar como eles querem. Vimos muita lama, em dias de chuva. Nas primeiras reuniões, com bancos, preparavam trilhos para que eles chegassem. As pessoas ficavam na dúvida se era aqui mesmo”, afirmou a encarregada de copa da BTP, Marinete Pardal de Oliveira.
A gerente administrativa do terminal, Maria de Fátima Borges dos Santos, também acompanhou esse processo e prevê que os cuidados das empresas do setor com o meio ambiente sejam cada vez mais uma prática comum. “Eu entendo que isso nunca vai acabar. Cada vez mais tem que intensificar. Até hoje (na BTP) temos vários programas ambientais que são seguidos. Mesmo tendo remediado toda a área, temos que acompanhar, fazer medições constantes”.