Renovada em 2016, a área do Porto do Rio começa a receber mais escritórios. Nos últimos meses, pelo menos sete empresas se mudaram para os prédios construídos na região, que ainda concentra a maior taxa de desocupação da cidade. Com elas, passam a circular mais quatro mil pessoas diariamente por Santo Cristo, Gamboa e Saúde. A expectativa é que esse número dobre até o ano que vem, atraindo também empreendimentos de serviços e varejo.
O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), Antonio Carlos Barbosa, observa que o processo é lento, mas começa a ganhar consistência:
— As ocupações virão aos poucos. A decisão de um empresário vir e ficar é coisa de três anos, no mínimo. Parte da crítica que temos é a escassez de serviços, restaurantes, mas com as empresas vindo, o setor de serviços acompanha. O desafio agora é ocupar 24 horas, com habitação.
A Bradesco Seguros, que comprou o Port Corporate, perto da Rodoviária Novo Rio, ocupará os 18 andares do edifício com três mil funcionários a partir de 2019. A Tishman Speyer Brasil, que construiu o empreendimento e mantinha ali seu escritório carioca, está de mudança para o Aqwa Corporate, outro projeto seu, em frente à Cidade do Samba.
— Passadas as eleições, a tendência é que esse movimento de ocupação do Porto vá crescendo. Temos o Lumina, que estará pronto para ser lançado em 2019, dependendo da recuperação das condições econômicas — diz Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer Brasil.
Atração de start-ups
Também no Aqwa acaba de se instalar a Fábrica de Startups, aceleradora portuguesa que vai agregar com 130 empresas de base tecnológica, envolvendo 550 empreendedores com faturamento conjunto de R$ 50 milhões.
— As start-ups aceitam ir para regiões que sejam conectadas com grandes polos industriais, como é o caso do Porto Maravilha, por um preço melhor e mais acessível. Como crescem muito rápido, elas começam a criar uma dinâmica no local de instalação muito única, estimulando esses espaços a serem ocupados cada vez mais — destaca Hector Gusmão, diretor executivo da Fábrica de Startups no Brasil.
O Tauil & Chequer Advogados mudou com seus 149 empregados para o mesmo endereço no mês passado, quando o Licks Advogados também fechou contrato de locação com a Tishman para se instalar ali.
— Ainda há demandas em relação à segurança da região e à oferta de serviços. Ainda é difícil encontrar locais para almoço, lazer, entre outros. Acreditamos que isso deve mudar com a vinda já anunciada de mais empresas de grande e médio porte para a região nos próximos meses — diz o sócio Ivan Tauil.
A taxa de vacância no Porto recuou de 87,5% para 75,1% entre o fim de 2017 e junho deste ano, mas ainda é a mais alta da cidade, segundo a consultoria Newmark Grubb. O avanço é gradual e sofreu ao menos um grande revés nos últimos meses. A negociação da Caixa Econômica Federal para transferir sua sede regional da Avenida Rio Branco para o Porto naufragou. Parte dos dois mil funcionários protestou contra a mudança, alegando justamente a falta de serviços no entorno.
Ainda faltam residenciais
Na região desde 2013, a japonesa Nissan — com seus 160 funcionários —t rocou o Porto Brasilis, próximo à Praça Mauá, pelo edifício Nova, na Avenida Barão de Tefé, em agosto. Virou vizinha da L’Oréal, que ocupa quase todo o prédio com seus 800 colaboradores desde 2017. A empresa de turismo Alatur e a agência de classificação de risco Fitch Ratings também se transferiram para o prédio, com 70 e 53 funcionários, respectivamente.
— Achamos melhor implantar o projeto piloto de escritório virtual no Porto. Para isso, houve adequação da estrutura e implementação de uma nova forma de trabalhar. Foi o primeiro lugar na América Latina que a Nissan implementou isso — explicou Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil.
Para Patrick Sabatier, diretor de Relações Institucionais da L’Oréal Brasil, a região ainda precisa de atenção especial do poder público:
— A revitalização do Porto Maravilha é fundamental para a transformação e modernização de uma zona icônica Rio. Precisa do apoio das autoridades para fornecer todos os serviços públicos, em particular segurança e transporte.
Para financiar os investimentos na infraestrutura da região portuária por 15 anos, foram lançados os Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), mas a negociação dos títulos, que chegaram a registrar preços altos e valorização com a euforia da revitalização e a realização das Olimpíadas, encalhou pouco tempo depois.
Para Rubem Vasconcelos, vice-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) e presidente da imobiliária Patrimóvel, um erro de precificação dos imóveis no início da ocupação da região comprometeu o interesse de investidores e empresas.
— O Porto tinha que ter começado sua ocupação com preços abaixo dos de Botafogo e Flamengo, mas a precificação foi errada. Só agora oferta e demanda estão começando a se adequar, atraindo investidores — avalia Vasconcelos, para quem o desenvolvimento da área depende da atração de unidades residenciais e equipamentos como escolas e hospitais. — Não se ocupa uma área como essa com um estalar de dedos. Há vários projetos engavetados à espera de melhoria nas condições.
Em agosto, o governo federal anunciou a ideia de construir, com a Caixa, cinco mil unidades do programa Minha Casa, Minha Vida na região. Nada saiu do papel. Hoje, há 29,8 mil pessoas morando no Porto, que poderia receber até 400 mil habitantes.