Prejuízo com greve beira meio bilhão

Perto de completar dois meses, a paralisação dos auditores da Receita Federal na Eadi (Estação Aduaneira do Interior) de Foz do Iguaçu já soma um prejuízo para as transportadoras na ordem de R$ 400 milhões, conforme prognóstico diário de perdas estimadas em R$ 8 milhões -, conforme dados repassados pelo Sindifisco (Sindicato das Empresas de Transporte Internacional de Foz do Iguaçu). A paralisação afeita 400 empresas de cinco estados brasileiros (PR, SC, RS, SP e MS) e mais três países vizinhos: Chile, Paraguai e Argentina.

 

A greve dos auditores fiscais da Receita Federal de Foz do Iguaçu foi deflagrada em 1º de novembro e desde então a liberação das cargas que chegam diariamente ao Porto Seco de Foz do Iguaçu é feita por 30% do efetivo.

 

Do lado de fora, 1.250 caminhões aguardam para ter acesso à Eadi e mais 800 lotam o pátio interno. Há casos de caminhoneiros há mais de dez dias esperando para obter a liberação das cargas por parte da Receita Federal. Do lado de fora, pátios dos postos de combustível vizinhos estão abarrotados de caminhões aguardando a espera para entrar na Eadi e outros ficam às margens da BR-277.

 

Há duas semanas os auditores fiscais de todo o Brasil estiveram em Foz do Iguaçu para engrossar a mobilização na aduana localizada na Ponte da Amizade, na divisa do Brasil com o Paraguai. A paralisação tem caráter nacional.

 

Os fiscais cobram do governo federal o cumprimento de um acordo estabelecido ano passado. Nele, ficaram acertados 20% de reposição salarial, 5% ao ano, até 2019. Sem regularização do acordo por parte da União, os auditores fiscais decidiram cruzar os braços.

 

Média de espera por liberação de cargas é de 10 dias

 

Dono de uma transportadora que depende do despacho de mercadorias para fins de importação e exportação, Edmilson dos Santos relata que o tempo de espera passou de um para dez dias. “O reflexo de tudo isso é a dificuldade de a frota atender toda a demanda, principalmente no fim do ano, em que o volume de cargas envolvendo o comércio exterior aumenta. Com os caminhões parados, estamos perdendo negócios e deixando de atender o mercado e o pior, comprometendo o fechamento de contratos”, alerta.

 

Sem movimentação, a empresa se viu obrigada a desligar nove colaboradores, provocando os primeiros reflexos relacionados a demissões. “E esse é só um caso. Outras empresas certamente estão atravessando a mesma dificuldade”, disse o proprietário da transportadora. “A demanda de atendimento de janeiro a março já está comprometida e os reflexos ainda poderão ser sentidos até abril do próximo ano”.

 

Segundo os caminhoneiros, a greve causa um efeito dominó, atingido toda a cadeia de transporte, como o importador, o exportador, as empresas e até o motorista.

 

Além disso, o forte calor tem comprometido a qualidade de alguns alimentos que aguardam a liberação das cargas.

 

O Sindifoz chegou a realizar um protesto em frente à sede da Receita Federal em Foz do Iguaçu pedindo o fim da greve dos auditores. O diretor do Sindifoz, Paulo Melo, cita que muitos exportadores paraguaios, mais precavidos, estão deliberando as cargas nos portos secos da região, em Cascavel e em Guaíra, por exemplo, fazendo migrar o movimento. A estimativa é de que o volume de movimentação de mercadorias nesses locais tenha crescido de 10% a 15% nos últimos dias. “O medo maior é o de perder grandes contratos por conta dessa morosidade na liberação de cargas, efeito que já tem sido sentido por várias transportadoras”, revelou.

 

Cargas vivas ou perecíveis têm prioridade na liberação, de acordo com a Receita Federal. “Estamos esperando por um tempo absurdo para conclusão dos processos de transporte, desde embarque, trânsito de mercadoria, liberação e entrega até o destinatário, ou no sentido inverso, quando envolve importação”, citou Melo.