O projeto de um novo acesso multimodal que ligaria o Rodoanel Leste (Suzano) ao Porto de Santos, no litoral de São Paulo, o maior da América Latina, foi arquivado pelo Governo do Estado, por considerá-lo superficial e inviável economicamente. Elaborado há quase dois anos, o acesso poderia resolver problemas de logística e desafogar o trânsito na Baixada Santista e na capital paulista.
Batizado de Via Mar, o projeto de Parceria Público Privada (PPP) foi realizado pela construtora Contern, que participou das obras do Rodoanel. Ele contempla um sistema multimodal composto por uma rodovia de 36 km, hidrovia, ferrovia e dutovias. O trajeto é parte de uma grande interligação, que inclui o trecho Leste do Rodoanel Mario Covas, a Estrada dos Fernandes e a Rodovia Índio Tibiriçá, e segue até o Porto de Santos.
A rodovia teria duas pistas, com três faixas por sentido, e velocidade máxima de 120 km/h. Na Baixada Santista, ela cruzaria a Rodovia Cônego Domênico Rangoni, próximo ao acesso à Ilha Barnabé. Um túnel de 1.400 metros, sendo 600 metros submersos, a uma profundidade de 26 a 30 metros abaixo do nível do mar, seria construído para ligar o canal do porto à avenida portuária.
José Vagner Leite Ferreira, arquiteto urbanista especializado em Logística de Transportes, Portos e Hidrovias, participou da elaboração do projeto e explica que a primeira parte inclui apenas a rodovia. Em uma segunda etapa, porém, seria construído um espaço abaixo da via para serem instalados os outros modais, como ferrovia e dutovia, que iriam movimentar produtos líquidos e combustíveis.
Além disso, seria possível incluir o transporte hidroviário ao sistema. “Existem quase 200 km de rios navegáveis na Baixada Santista. Essa rodovia poderia chegar à margem. As cargas seriam transferidas para barcaças e transportadas até o Porto. Cada balsa levaria 120 contêineres. Grandes rios brasileiros já estão sendo utilizados assim, ligando a área continental à insular”, explica Ferreira.
As obras contariam com a mesma tecnologia utilizada na construção do Rodoanel, com reduzida emissão de poluentes e baixo impacto social e ambiental, mesmo o complexo passando pela região da Serra do Mar. “Há o respeito total ao meio ambiente. A rodovia passaria por baixo do parque estadual, sem a necessidade de cortes na mata”, explica.
O projeto ainda contempla a construção de três plataformas logísticas em pontos estratégicos. Uma delas, com acesso pelo Rodoanel, contaria com um pátio para estacionamento de caminhões, com postos de combustíveis e manutenção de veículos, área para carga, descarga e armazenamento de mercadorias.
Uma segunda plataforma iria organizar e controlar o transporte de cargas entre o planalto e a Baixada Santista. Os caminhões poderiam descarregar e receber novas cargas sem a necessidade de ir até o Porto de Santos. Outra plataforma, já no litoral, distribuiria os produtos nas balsas, que transportariam os contêineres até os navios atracados, o que diminuiria o tempo de embarque e desembarque.
Segundo Ferreira, o principal objetivo do projeto é facilitar o acesso ao Porto de Santos, diminuindo o tráfego de caminhões que congestiona o trânsito do litoral até a capital paulista. As viagens seriam mais rápidas e o tempo de embarque e desembarque diminuiria. O custo de fretes, a perda de cargas e o prejuízo dos exportadores também seriam menores.
Segundo o projeto, a nova rodovia poderia receber, por dia, até 14.400 automóveis e 7.800 caminhões, que seriam agendados com os terminais do Porto de Santos, como já é feito atualmente. A primeira fase da obra, que contempla apenas a rodovia, teve custo estimado em R$ 8 bilhões e demoraria cerca de quatro anos para ser concluída.
“A inclinação da rodovia é menor que a do Sistema Anchieta-Imigrantes, os caminhões poderiam descer normalmente. O Porto de Santos pode chegar a movimentar 200 milhões de toneladas, isso era uma previsão para 2015. A gente trabalha com essa projeção, mas se não houver logística, fica difícil”, ressalta Ferreira.
Uma Manifestação de Interesse Privado (MIP) referente ao projeto foi entregue ao Governo do Estado de São Paulo. Segundo a Secretaria de Governo, a MIP foi arquivada, conforme parecer do Conselho Gestor de Parcerias Público-Privadas, publicado no dia 22 de agosto. A proposta foi considerada superficial.
O governo estadual afirma ainda que mantém estudos técnicos para encontrar formas de melhorar o acesso ao litoral. Além disso, explica que todas as propostas são avaliadas sob perspectivas de viabilidade técnica, econômica, jurídica e consistência, com planejamento estratégico dos órgãos setoriais envolvidos. Neste caso, o projeto revelou-se inviável do ponto de vista econômico, considerando a atual conjuntura econômica nacional.