CABOTAGEM CRESCE, MAS SÓ TEM 10% DOS MODAIS

A cabotagem – transporte de carga pelo mar entre portos do mesmo país – serve sob medida para o Brasil. Trata-se da opção mais econômica para um país com mais de 8 mil quilômetros de litoral e 80% da população vivendo a 200 quilômetros da costa. 

Nas rotas mais longas, o modal reduz em até 20% o custo de transporte. Nos últimos dez anos dobrou de tamanho em volume transportado, mas ainda representa menos de 10% da matriz brasileira de transporte de carga. Na União Europeia chega a 37% e na China a 48%.

“A cabotagem vem se consolidando como alternativa competitiva no transporte de carga. Embora menos ágil, apresenta custos mais interessantes e maior segurança em comparação com o modal rodoviário”, diz Ricardo Carui, diretor de produto marítimo da DHL Global Forwarding, divisão especializada em fretes marítimos e aéreos da DHL. “As empresas clientes começam a olhar para a cabotagem com outros olhos. Ela serve como luva na crise econômica para as empresas que têm que se programar melhor para reduzir custos”, afirma Marcus Voloch, gerente-geral de Mercosul e Cabotagem da Aliança Navegação e Logística, subsidiária da Hamburg Süd, um dos dez maiores grupos internacionais de transporte de contêineres, que só no Brasil transportou no ano passado 200 mil TEUs. “Quem se planeja bem usa cabotagem de forma eficiente”, diz Marcio Arany, diretor-comercial da Log-In, segunda em participação no mercado brasileiro e do Mercosul, que opera sete navios porta-contêineres e dois graneleiros.

O custo do frete, a segurança da carga, a confiabilidade dos prazos, os baixos níveis de avaria dos produtos, o acompanhamento mais eficiente da rota e a armazenagem estão entre os trunfos da cabotagem. Há ainda o fator ambiental: enquanto o transporte rodoviário emite 50 gramas de CO² por TKU e a locomotiva a diesel, 35 g/TKU, a cabotagem emite 15 g/TKU. As desvantagens são o tempo de espera para atracação dos navios, a burocracia dos processos, os gargalos de infraestrutura portuária, a baixa integração com os modais rodoviário e ferroviário e o alto custo de abastecimento dos navios.

Enquanto a economia do Brasil crescia, o desempenho da cabotagem acompanhava o desempenho. De 2004 a 2012 passou de 96 milhões de toneladas para 139 milhões de toneladas. No ano passado atingiu 210,9 milhões de toneladas movimentadas e 149,18 milhões de toneladas transportadas. Os principais fatores de estímulo foram o crescimento da cabotagem por contêiner, o balanceamento produtivo e de mercado consumidor entre os extremos da costa brasileira, além de uma melhoria nas instalações de movimentação portuária e a integração de modais.

Este ano, de janeiro a maio, dados do anuário da Antaq apontam a movimentação de 84,657 milhões de toneladas – quase 3% a menos que nos cinco primeiros meses de 2015 – e 58,163 milhões de toneladas transportadas – quase 6% a menos que no mesmo período do ano passado. Cerca de 80% da carga eram formadas por granel líquido e gasoso. O porto de Santos é o principal ponto de saída e chegada, seguido pelo TUP Chibatão, no Amazonas.

“A cabotagem é fundamental para o estabelecimento de uma logística nacional integrada para o transporte de cargas em longas distância. Apesar das dificuldades operacionais, continuará crescendo”, afirma Ricardo Carui, da DHL Global Forwarding. “A cabotagem promove a integração dos modais para otimização da cadeia logística, eliminando 300 mil viagens nas estradas por ano. É o modo de transporte com menor emissão de gases por tonelada transportada”, diz Marcus Voloch, da Aliança Navegação e Logística.