FRETE US$ 46 MAIS BARATO

O produtor brasileiro de soja gasta, atualmente, para levar a produção da fazenda até o porto, em média, US$ 92/tonelada, quatro vezes mais do que na Argentina e nos Estados Unidos, por conta da deficiência da logística nacional. Esse valor representa aumento de 228% em relação à década passada, quando a quantia gasta era de US$ 28/tonelada. O desembolso é ainda maior, quando se avalia a realidade do sojicultor mato-grossense, que paga mais caro, roda mais e fica cada vez menos competitivo.

Um exemplo claro da carência de infraestrutura e logística no Brasil se refere à produção das novas fronteiras agrícolas, localizadas acima do paralelo 16 Sul, abrangendo parte do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, situados no Corredor do Arco Norte. Estas regiões respondem por quase 60% da produção nacional de soja e milho, gerando excedente de 64 milhões de toneladas para exportação. Entretanto, a falta de hidrovias, ferrovias, rodovias e portos obriga os produtores a deslocarem suas safras até os portos do Sul e Sudeste. Os dados foram apresentados pelo consultor de Infraestrutura e Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet, na última quinta-feira.

Um produtor de soja de Sorriso (MT), por exemplo, precisa percorrer mais de dois mil quilômetros para levar sua produção até os portos do Sul e Sudeste. Até o porto de Santos, o custo ficaria em US$ 126/tonelada. Por outro lado, se os portos de Belém ou Miritituba, no Pará, tivessem condições de operacionalização para receber a produção de Sorriso, o custo seria de US$ 80/tonelada, US$ 46 a menos. “Seria mais dinheiro no bolso do produtor”, disse Fayet. No entanto, ressaltou, a recuperação da capacidade de operacionalização dos portos pode levar muitos anos. Se o incremento for de cinco milhões a cada ano, o país levaria de 18 a 20 anos para atender à atual demanda dos portos para exportação.

Ao apresentar dados sobre a logística brasileira, Fayet alertou que o alto custo do setor com o frete da sua produção reduz a competitividade do país para exportação. “Hoje, se um produtor de soja vende uma tonelada por US$ 450 para fora do país, ele já perde US$ 92 com o frete”, afirmou. Segundo ele, um dos motivos deste custo é a falta de um sistema de logística compatível com a eficiência da produção “dentro da porteira”. “Infelizmente nossos problemas fora da porteira nos prejudicam”, lamentou.