O projeto do porto privado multicargas de São Mateus, a ser construído na cidade de mesmo nome localizada no Norte do Espírito Santo, contará com financiamento do fundo soberano Abu Dhabi Fund for Development (ADFD). A agência de ajuda externa criada pelo governo de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, financiará 85% dos R$ 3 bilhões orçados para o empreendimento.
O nome do fundo era guardado em segredo pela Petrocity Portos, empresa criada em 2013 por um grupo de investidores brasileiros e estrangeiros para construir o porto, mas foi informado ao Valor pelo diretor-geral da empresa, José Roberto Barbosa.
Hoje, haverá a assinatura de um memorando de entendimentos entre a Petrocity e o governo do Espírito Santo em que estará definido o cronograma para a instalação do porto. Na ocasião, também serão assinados os contratos com empresas envolvidas no processo, como a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), que fará os projetos e construirá o empreendimento, conforme o Valor adiantou em 2018.
O pedido de licença prévia do empreendimento, denominado Complexo Portuário de São Mateus, foi protocolado em junho passado e a expectativa é que as obras comecem até o fim de julho deste ano. O licenciamento será tocado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente. A meta é terminar as obras em 2021 já com a capacidade plena instalada.
O porto poderá movimentar 30 milhões de toneladas e a projeção é que no terceiro ano de operação escoe 14 milhões de toneladas. Mas Barbosa não gosta de mensurar a importância do negócio por tonelagem, avalia que essa métrica não é a mais adequada para traduzir o alcance do projeto logístico. Nele, haverá área para atender carga geral, cargas rolantes (veículos), rochas ornamentais e embarcações de apoio offshore.
Cada área terá um operador âncora. Está em criação uma empresa – a Petrocity Logística – que buscará esses parceiros. Já está definido que a operação de rochas ornamentais ficará a cargo da multinacional de mármore e granito Marmi Bruno Zanet.
O projeto do porto foi concebido para escoar cadeias que estão em um raio de até 300 quilômetros mas são “perdidas” para portos de outros Estados. “Em 2017, o equivalente a R$ 17 bilhões em cargas saiu pelo Rio e por Santos. É para parar de perder carga e reduzir o custo final do transporte no longo curso”, disse Barbosa. Com profundidade para receber navios de até 16 metros de calado, o porto de São Mateus poderá atrair embarcações grandes e fazer o transbordo de cargas para menores, que, por sua vez, alimentarão portos secundários.
Originalmente, o empreendimento estava orçado em R$ 2,1 bilhões, mas houve a inclusão de investimentos e o valor subiu para R$ 3 bilhões. A área saiu de 1,5 milhão de metros quadrados para 1,7 milhão de metros quadrados; o cais não será mais “em terra”, mas offshore, o que exigirá uma ponte de 1,8 quilômetro sobre o mar; e haverá estrutura com restaurantes e centro de convenção, entre outros serviços.
Será construído um parque para geração de energia fotovoltaica que abastecerá o complexo.
A mudança para o cais offshore permitirá à empresa reduzir a necessidade de dragagem. “Antes seria necessário retirar 12 milhões de metros cúbicos, agora, apenas 10% disso”, afirmou Barbosa. O cais terá 2,350 mil metros lineares: um lado poderá receber navios com até 16 metros de calado, o outro tem fundura natural para embarcações com até 14 metros de calado.
A Petrocity tem entre os acionistas a Brasil Participações S.A, um grupo de comunicação do Espírito Santo e empresas dos setores de óleo e gás e de rochas ornamentais. Aproximadamente 40% das ações estão em tesouraria para a realização da abertura de capital. “Em fase muito adiantada e que deverá ser executada até o fim de 2019”, disse o executivo.