Determinar as medidas necessárias para automatizar as operações nos terminais de contêineres no Porto de Santos. Este é o tema de uma pesquisa desenvolvida por três alunos do curso de Engenharia Civil da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos. Para isso, eles compararam instalações automatizadas em complexos internacionais com a realidade do cais santista e constataram que a proposta, atualmente, é “inviável”.
Ítalo Miqueias Ferreira de Araújo, Layla de Oliveira e Rafaella Rodrigues Torres Lapetina são os responsáveis pelo estudo, que se tornou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do grupo – que se formou no final do semestre passado. Eles foram orientados pelo professor Adilson Luiz Gonçalves, responsável pelo Núcleo de Estudos Portuários e Marítimos (Nepont) da universidade.
“Santos é uma referência, mas a gente não tem, a exemplo do que ocorre em outras partes do mundo, terminais com automatização total. O estudo deles objetiva ver qual é o estágio atual dos terminais de contêineres no Porto de Santos e quais as expectativas e perspectivas da implantação de um terminal com automação total. Automação processual já existe. O que falta é automação operacional”, afirmou o professor orientador.
Os hoje engenheiros visitaram um terminal de contêineres do Porto, na região da Ponta da Praia, e entrevistaram executivos da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra). Assim, identificaram os principais entraves para a automatização das operações.
Entre esses gargalos, está a necessidade de adequações estruturais e funcionais, incluindo a mudança no arranjo físico de áreas operacionais. Isto porque alguns bloqueios, como linhas férreas cortando a área do terminal, podem reduzir a capacidade de armazenagem das instalações.
A legislação portuária, que determina a utilização de trabalhadores portuários avulsos na movimentação de mercadorias, também é outra questão capaz de inviabilizar a automatização das operações com contêineres. “O Porto tem um grande potencial para a implantação desse sistema. Porém, ainda depende de muitas coisas, como uma solução para questões trabalhistas e sociais, por conta da mão de obra avulsa, por conta da legislação. A demanda não é suficiente para que seja investido tanto dinheiro”, destacou Layla.
Outro ponto abordado pelos estudantes foi a demanda dos terminais de contêineres. Segundo eles, as instalações consideram mais rentável a atividade de armazenamento das caixas metálicas em seus pátios, na comparação com as atividades de embarque e desembarque.
“Além disso, há outras dificuldades para que seja implantado o processo de automação plena, tais como a taxa de padronização que não atende o valor de, pelo menos, 95% de processamentos sem exceções”, relatam os pesquisadores.
Conclusão
Para o grupo, são necessárias várias adequações para que Santos tenha um terminal 100% automatizado. Todas elas, porém, têm um custo alto, o que torna o processo inviável.
“O Porto de Santos tem capacidade para operar aproximadamente 6 milhões de TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano, mas vem atuando com cerca da metade desse potencial. As incertezas relativas ao trâmite formal de mercadorias e ao agendamento de cargas, o potencial impacto sobre os custos operacionais, as tarifas cobradas pela Autoridade Portuária e a obrigatoriedade de utilização de mão de obra avulsa no Porto, que também tem impacto sobre custos, tornam momentaneamente inviável o investimento no processo de implantação do sistema de automação”, apontam os engenheiros em seu estudo.
Terminais nos portos de Roterdã, nos Países Baixos, e Antuérpia, na Bélgica, foram exemplos de instalações com operações automatizadas estudados pelo grupo. O holandês Euromax, conhecido como “o terminal fantasma”, foi pioneiro a operar com um sistema totalmente automatizado.
Complexos europeus foram avaliados
No Euromax, a não necessidade de trabalho humano na região do cais – os profissionais programam remotamente os equipamentos para movimentar os contêineres – resultou em uma significativa redução de acidentes na instalação. Também foram registradas quedas em interrupções de operação e custos operacionais. Uma das conclusões é de que o processo de automação melhora a produtividade, a lucratividade e a competitividade do terminal no mercado.
O trabalho foi realizado pelos estudantes de Engenharia Civil Ítalo de Araújo, Layla de Oliveira e Rafaella Lapetina, da Universidade Santa Cecília.
“No Euromax, as informações são monitoradas através de uma torre de controle. A gestão de toda movimentação de veículos e guindastes é feita num percurso determinado pela torre de controle, sem a utilização de motoristas ou operadores. Todo o carregamento dos contêineres é controlado por escâneres, equipamentos utilizados para inspeção não intrusiva de cargas. O início e o fim das operações das embarcações são gerenciados por satélite evitando, assim, a formação de filas ou geração de conflitos de logística no terminal. Portanto, a mão de obra empregada é a tecnologia, assim tornando um porto eficaz”, afirmaram os estudantes na pesquisa.
No terminal, são operados 14 transtêineres (pórticos rolantes sobre rodas férreas ou pneus), que movimentam os contêineres no pátio. Na torre de controle, todos equipamentos são conduzidos por comandos, sendo que as operações são acompanhadas por quatro funcionários por turno de seis horas.
Em Antuérpia, “as cargas são cada vez mais padronizadas e as operações automatizadas, o que causa preocupação da população quanto à redução de postos de trabalho. Isso vale mesmo em ausência de automação, pois apenas o processo de padronização já reduz a demanda por mão de obra”, informam os estudantes.