Da Rússia ao sul do Maranhão, a importação de fertilizante movimenta uma extensa cadeia de negócios, gerando oportunidades para os maranhenses.
De janeiro a julho deste ano o Porto do Itaqui movimentou mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes, volume 5% acima do que foi registrado no mesmo período de 2018. No total, em 2018 foram descarregadas no porto público do Maranhão quase 2 milhões de toneladas de fertilizante e a tendência é fechar 2019 bem acima dessa marca.
A consolidação do Porto do Itaqui como principal porta de saída da produção de grãos (soja e milho) da região Centro-Norte do Brasil vem impulsionando cada vez mais a importação de fertilizantes como carga de retorno. O Itaqui ocupa o top três no escoamento de soja entre os portos públicos brasileiros e é o quinto em importação de aditivos para produção agrícola.
Por trás desses resultados está uma rede de negócios que direta e indiretamente impactam a economia do Maranhão e do Brasil. Importadores, autoridade portuária, armadores, operadoras portuárias, agências marítimas, praticagem e arrendatários – diretamente relacionados ao porto – demandam prestadores de serviços, fornecedores de produtos, transportadores e mão de obra diversificada. Todos movimentando a roda da economia com geração de emprego e renda ao longo de uma diversificada cadeia produtiva.
A soma de empregos diretos e indiretos gerados a partir da atividade portuária chega a cerca de 14 mil postos de trabalho. Isso inclui colaboradores da EMAP, das operadoras e arrendatárias, funcionários de órgãos públicos como a Receita e a Polícia Federal, Antaq, ANVISA, Vigiagro e bombeiros; e também os trabalhadores portuários avulsos (TPAs), que segundo a lei dos portos (12.815/2013) devem, necessariamente, ser demandados pelas operadoras portuárias para trabalhos no Itaqui. Essa mão de obra é gerida pelo OGMO – órgão gestor de mão de obra.
Há ainda funcionários de empresas terceirizadas, de restaurantes, agências bancárias e demais empreendimentos estabelecidos no porto e associados às cadeias movimentadas através dele ao longo de toda a área de influência.
Com a responsabilidade de garantir a infraestrutura necessária ao funcionamento de todos esses negócios, administrando e fiscalizando as operações, a Empresa Maranhense de Administração Portuária – EMAP exerce a autoridade portuária e gerencia toda a movimentação, atuando desde a atracação e desatracação e tráfego de embarcações no porto, zelando pelo cumprimento da legislação vigente, segurança e respeito ao meio ambiente.
Da Rússia ao sul do Maranhão
A maior parte dos fertilizantes movimentado pelo Porto do Itaqui vem da Rússia, Egito e Israel, que juntos respondem por 51% do total. Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos, o mercado brasileiro consumiu 35,5 milhões de toneladas de fertilizantes em 2018. Desse total, apenas 8,1% é produzido no país, que importou 77% do que foi entregue ao mercado, o que equivale a 27,7 milhões de toneladas.
Até chegar às fazendas dos produtores de grãos do Maranhão e demais estados do MATOPIBA (Tocantins, Piauí, Bahia, além do nordeste do Mato Grosso), muitas distâncias são vencidas e vários negócios realizados.
Um dos elos importantes dessa cadeia é o operador portuário, responsável pelo desembarque da carga que chega desses países. Fábio Alvarenga, da Brazil Marítima, responsável pela operação de 336 mil toneladas de fertilizante em 2018, vem trabalhando na perspectiva de aumento de volume e de produtividade. “A expansão do MATOPIBA e o aumento da demanda da Ásia associados à administração profissional do Porto do Itaqui dão condições de competitividade para todos os players”, afirma.
A confiança no potencial de ampliação do mercado se traduz em novos projetos de investimentos no Itaqui. “Vamos apresentar um plano de investimento em máquinas e sistema para aumentar a produtividade mantendo o mesmo preço”, diz.
Depois de retirada a carga do navio pelo operador, entram em cena as empresas transportadoras. O fertilizante é descarregado em caminhões que fazem o trajeto entre o cais do porto e as fábricas localizadas no Distrito Industrial ao longo da BR135. Para Nazaré Madeira, gestora de negócios da Transul, a aposta é em inovação. “Estamos investindo em tecnologia e também em veículos. Até 2018 tínhamos 60 equipamentos (caminhões). Hoje temos 90”, diz.
São mais de 100 funcionários, incluindo a matriz e a unidade de São Luís. Nazaré estima cerca de 380 postos de trabalho, entre diretos e indiretos, na trajetória dessa carga entre o Porto do Itaqui e as áreas produtoras. São operadores de sistema, pessoal administrativo, operacional, motoristas, trabalhadores em oficinas de manutenção, postos de combustível, restaurantes e demais serviços.
O fertilizante que chega à região produtora de grãos é fabricado a partir da mistura de diversos tipos de produtos químicos. São quatro fábricas e dois armazéns em um raio de 20 km na região da Vila Maranhão. Uma delas é a Fertilizantes Tocantins, que produziu 800 mil toneladas e responde pelo maior volume do fertilizante importado pelo Porto do Itaqui em 2018. Com capacidade para estocar 160 mil toneladas do produto.
Um dos principais destinos dessa carga é a região sul do Maranhão, onde estão localizadas as fazendas produtoras de soja e milho. Uma dessas propriedades é a do Paulo Kreling, presidente da Associação dos Produtores da Serra do Penitente, região que abrange os municípios de Balsas, Tasso Fragoso e Alto Parnaíba, sul do Maranhão.
Ele integra a carteira de clientes de uma consultoria agronômica que, entre outros serviços, oferece um pool de compras para aquisição de insumos, entre eles o fertilizante, tudo calculado de acordo com os períodos de safra. “Precisamos receber a carga até o final de agosto porque o plantio começa em outubro”, conta ele, que emprega 15 funcionários em sua propriedade em Balsas.
Paulo deixou o Rio Grande do Sul há 16 anos por acreditar no potencial agrícola do Maranhão e não pensa em voltar. “O meu projeto agora é ter qualidade de vida aqui nessa região, estabilizar por aqui”, diz.
A perspectiva de crescimento da produção de grãos na região do MATOPIBA representa não só o aumento da movimentação de cargas, mas também a ampliação de infraestrutura do porto público maranhense e o fortalecimento dessa cadeia produtiva. Uma rede que hoje é responsável por cerca de 2 mil postos de trabalho, 1.400 diretos e aproximadamente 600 indiretos, numa conta que está em curva crescente de desenvolvimento para o Maranhão e toda a área de influência do Porto do Itaqui.
Investimento de R$ 140 milhões
Um exemplo do fortalecimento dessa cadeia produtiva e da confiança do setor privado no porto público do Maranhão é o investimento de R$ 140 milhões da COPI – Companhia Operadora Portuária do Itaqui em um novo terminal de fertilizantes, com obras já iniciadas. O projeto prevê a construção de um armazém com capacidade para 80 mil toneladas e possibilitará movimentação de até 3,5 milhões de toneladas de fertilizantes por ano.
A nova estrutura será a mais moderna do país para esse tipo de operação, com interligação do armazém ao berço 101 do Itaqui. O contrato de arrendamento da COPI cobre uma área de 16 mil metros quadrados, destinada à movimentação de granéis sólidos e carga geral.
Para o presidente da COPI, Carlos Roberto Frisoli, “o empreendimento – que deve estar concluído em dois anos – vai consolidar o Itaqui como o porto de entrada de fertilizante de todo o Arco Norte, incluindo Goiás”. Ele avalia que o porto público maranhense é logisticamente mais ágil e mais competitivo pela localização geográfica (mais próximo do mercado externo) e por sua conexão ferroviária. “Vamos concorrer diretamente com os portos de Paranaguá e Santos”, afirma.
“Nós apostamos no Porto do Itaqui e no Maranhão porque é um porto viável e tem uma gestão profissional”, destaca. O novo terminal deve iniciar as operações até o final de 2020 e a expectativa é movimentar 2,2 milhões de toneladas de fertilizante/ano.